sexta-feira, 4 de junho de 2010

Quem soltou um “pum” tem uma folha verde na cabeça. E não tinha aquele que não levasse a mão aos cabelos para conferir. E cinco minutos depois, se meu avô voltasse a perguntar, todos nós voltaríamos a conferir quem havia soltado um “pum” e caiamos na gargalhada. Como faz falta a inocência. Pra brincar de “Power Ranges”, todos desenhavam seu corpo no papelão da caixa que trouxera o fogão ou a geladeira nova, recortava em seguida, e tinha um boneco de massa para cada. Um adversário a altura, um pouco de imaginação e diversão para toda à tarde. Não sei aonde vão adquirindo tanta aspereza. Este acúmulo desnecessário de vida adulta? Seriedade. Interesse. Responsabilidade e perda. Não é correto perguntar aonde, o correto seria por quê? Não conhecer me tornava mais simples. Menos exigente. Menos irritante. Menos adulto. Menos. Não conhecer também me tornaria mais. Mais menino, de fato. Mais sorriso. Mais afeto. Mais correria, agitação, inocência. 

Estou cansado. Ser criança me exigia muito menos. Eu ia ao colégio, chorava, tinha meus planos, mas, saía (quase sempre) ileso de qualquer eventualidade. Ser criança não tinha essa de esperar o alguém certo. Qualquer um que se chegasse, sem importar o tamanho, mas que tivesse uma disposição infantil (Como vovô José, por exemplo) já era o alguém certo. Ser criança é ser simplicidade. E quando se é simplicidade não precisa de um universo para preencher o coração. Como se fosse um coração elástico. O que quiser colocar é só esticar que cabe, mas se for conteúdo pouco, o elástico por si só, firma. Sem sensação de vazio, só simplicidade. Antigamente não tinha essa de estudar semanas e tirar nota baixa. O maternal permitia pintar fora do desenho e ainda tirar um conceito “excelente”. Ser criança dispensava qualquer crise de existencialismo, qualquer coisa é o que é. Ou seria o que fosse. Ou se não fosse não seria. Ou tanto faz, não importava mesmo. Um ser sem ganância. Cada moeda era um dinheiro, e três moedas eram três dinheiros e já estávamos ricos. Um pirulito, bombom, Caramelo, jujuba, chiclete. Simplicidade é fazer de tudo felicidade. É por isso que ainda me dou esses prazeres de vez em quando. Que é para não esquecer o sabor que a vida tem. 

Que saudade.