domingo, 13 de março de 2011



[...] Signo de peixes, elemento: água. Personalidade caracteristicamente sonhadora, pessoa romântica. Ingênuo e casualmente burro. Tolo de tal forma, que permitiu a introdução inoportuna de uma ‘sub-crença’ na ocupação das lacunas abertas, ocamente preenchidas pela ausência de fé. Criança. Imaturo e pequeno, auto-ridicularizado por ter escolhido tão erroneamente as diferentes maneiras. As coisas. A pessoa. Prematuramente perdido. Substituindo hábitos. Reconstituindo o caráter numa espécie de recorte e colagem, e assim passava consecutivas noites, muitas noites. Calado. Colando. Recortando. Colando. Recortando. Chorando, às vezes. Por que além de trabalhoso, era dolorido reorganizar o (in)organizável. Pusera os óculos e observava-se no que lhe refletia. Espelhos, músicas, livros, pessoas. Qualquer coisa que apontasse sua palidez, os olhos tristes sinalizados pelos contornos das noites em claro. Sorriso amarelo para variar aqueles dias monocromáticos. Aliás, as cores só variavam a depender das horas, vezesrepetida vezesnão, dos comprimidos que consumia. Vermelhos, marrons, azuis, brancos e os outros dois. Liquidamente as cores não variavam. Bem como não variavam os pensamentos, os gestos, e novamente às muitas noites consecutivas. Ter o mesmo pensamento todos os dias antes de dormir dava-lhe, às 22:00 horas, talvez-mais-talvez-menos, a sensação de que os dias não passavam por que vivia todas às noites a mesma noite, sem findar. A única coisa boa desse período, era a certeza que, psicologicamente, só envelhecera uma noite. Fisicamente já sabíamos que. Além do mais, vivia acordando em diferentes cômodos da casa. Sala, sofá, corredor, sentado à mesa, quarto, área. É importante ressaltar que evitava tentar dormir por dois motivos. UM, não suportava mais ficar em silêncio, sozinho e contemplando o escuro. Como tinha insônia, passava horas acordado driblando à noite, os pensamentos, articulando fraquezas. DOIS, medo de sonhar. Só por que era ruim reconhecer que chovia na sala, sofá, corredor, mesa, quarto, área. Noite sim, noite não. Sentia angustia por acordar de cabelos bagunçado, molhados e maltratados pelo sal. Ocupava-se, então. Assistia. Lia. Escutava. Arrumava. Revia provas antigas, fotos da formatura. Admirava coisas prontas, vindas de fora. Nada que saísse dele o faria bem. Das pessoas que não entendem sempre vem a balburdia. Gritaria. Repreensão. Perguntavam-lhe o tempo todo por que seguia triste. Embora tivesse poucas pessoas com quem contar, era bem aceito. Quase inteligente. Quase bonito. Tinha saúde. Cursava o que queria. Não era rico, mas tinha o que comer, o que vestir. Saciava os desejos maiores. E tinha até fé. E muita gente não aceitava sua infelicidade. MAS, quando se é de peixes e possui uma fé peregrina por estradas estreitas, ainda que saciasse todos os desejos maiores, menores e afins. Quem é de peixes abre mão de qualquer coisa só para ter o coração em par. Peixes sabem amar, tinha orgulho disso. Contudo, nem todos são de peixes. Das coisas que peixes não aceitam, está inclusa a aceitação em viver submerso. Pela definição, todo peixe é uma minúscula ilha. Minuciosa também. Há exatos vinte-e-um anos ele vivia assim. Vagueia, vagueia. Para, vomita. Soluça. Pra Baixo. Pra Cima. Pra Baixo. Pra Cima. Respira. Vagueia... Certas coisas não deixam de ser o que são. Nem tudo se resolve diante de encruzilhadas. Esquerda, direita, frente ou atrás. Havia tanta coisa que ele não sabia precisar o momento exato em que decidira quando, onde, o que, por quê? Entende? Não que fosse displicente com as escolhas de sua vida, mas viver tinha um pouco disso. Você vai sendo, vai sendo, e depois: é [...]

2 comentários:

Yah Albuquerque disse...

Tava com saudade dos seus textos. Como sempre otimo! :D

Yah Albuquerque disse...

Tava com saudade dos seus textos. Como sempre otimo! :D