terça-feira, 19 de outubro de 2010



         Sempre acabava repetindo para si que não precisaria mudar nada de lugar. E quando fizesse silencio, estaria mudando as instalações de descanso, os aparelhos de entretenimento, a maneira de se vestir, o perfume que usava. Querendo repaginar-se, reorganizava os livros pela quantidade de páginas, por preferência, ordem alfabética de titulo ou autor, pelos tamanhos talvez. Nos dias mais tristes apenas os colocava dentro de uma caixa, e esta, sobre o guarda roupa.  Nos mais claros, espalhava pelo chão aqueles cuja leitura o acompanharia dia após dia por algum espaço de tempo. Tinha um único DVD de músicas, que quase sempre ocupava seu lugar no próprio aparelho de reprodução. Era único e, portanto, o único a embalar toda e qualquer organização. Mudaria a maneira de pentear o cabelo, e com sorte, até o corte mudaria. Nas receitas da semana poria mais pimenta. Caminharia por outras ruas porque sempre parecia que seria mais feliz se seguisse em frente por outros caminhos. E com o arrastar dos meses veria afundar-se em outra espécie de mesmice, não seria notado e se tornaria costume. Colocar-se-ia frente a um espelho para repetir seis ou oito vezes para si, algumas histórias que em contextos individuais o colocava numa daquelas listas de ‘dez mais’. Ficava contando ao infinito do outro lado todas as vantagens que existiam por ele ser ele mesmo e isso levava horas, dias alternados e diversas faces. Até convencer-se que tinha uma oratória horrível, não sabia contar histórias e era péssimo com argumentos. Ainda que se conheça perfeitamente bem, ainda que fosse o único ao qual deveria persuadir. Ele nunca conseguia. Era quando começava a repeti que não precisaria mudar nada de lugar. E outra vez os livros, o cabelo, as ruas. Até concluir que.

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